O dilúvio

O verboasah, “fazer”, que se refere às ações de Noé, também é uma palavra- chave no relato da criação em Gênesis (Gn 1:7, 16, 25, 26, 31; 2:2). Os atos de obediência de Noé a Deus são como os atos divinos de criação. O que podemos deduzir dessa ligação é que o dilúvio não tem a ver apenas com o juízo divino sobre a humanidade, mas também com a salvação que Deus nos oferece.

Leia Gênesis 7. Por que a descrição do dilúvio lembra o relato da criação? Que lições aprendemos com os paralelos entre esses dois eventos?

Uma leitura atenta do texto sobre o dilúvio revela o uso de muitas palavras e expressões comuns à história da criação: “sete” (Gn 7:2, 3, 4, 10; compare com 2:1-3); “macho e fêmea” (Gn 7:2, 3, 9, 16; compare com Gn 1:27); “Segundo as suas espécies” (Gn 7:14; compare com Gn 1:11, 12, 21, 24, 25); “animais”, “aves”, “animal que rasteja” (ver Gn 7:8, 14, 21, 23; compare com 1:24, 25); e “fôlego de vida” (Gn 7:15, 22; compare com 2:7).

Esses ecos dos relatos da criação ajudam a revelar que o Deus que cria é igual ao Deus que destrói (Dt 32:39), mas também transmitem a mensagem de esperança: o dilúvio foi projetado para ser uma nova criação, a partir das águas, que leva a uma nova existência.

O movimento das águas mostra que esse evento criativo na verdade reverte o ato criativo de Gênesis 1. Em contraste com Gênesis 1, que descreve a separação das águas acima e das águas debaixo do firmamento (Gn 1:7), o dilúvio envolve sua reunificação à medida que se rompem além de suas fronteiras (Gn 7:11).

Esse processo carrega uma mensagem paradoxal: Deus teve que destruir o que havia antes para permitir uma nova criação depois. A criação da nova Terra exigiu a destruição da antiga. O evento do dilúvio prefigura a salvação futura do mundo no fim dos tempos: “Vi novo céu e nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira Terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21:1; compare com Is 65:17).