Resumo do Módulo 1
TEXTO-CHAVE: Gn 1:1
FOCO DO ESTUDO: Gn 1–2; Sl 100:1-3; Êx 20:8-11; Mt 19:7-9; Jo 1:1-5
ESBOÇO
Introdução: É significativo que a Bíblia comece com a criação. Muitos livros bíblicos começam com uma evocação a esse evento. O livro de Crônicas inicia com a criação a fim de testemunhar que todos pertencemos à mesma raça humana, vinda do mesmo Pai (1Cr 1:1). Isaías começa com Gênesis 1:1, que é a primeira linha do relato da criação, para nos lembrar de que Deus é nosso Provedor e que devemos ouvi-Lo (Is 1:2). O primeiro testemunho de Daniel ao gentio chefe dos eunucos foi uma citação do relato da criação. As palavras de Daniel testificaram ao eunuco que Deus é o Criador, que lhes dava o alimento (Dn 1:12). Salomão introduziu sua reflexão meditando sobre a criação (Ec 1:1-11). Ele lamentou a vaidade da vida, entendendo que “não há nada de novo debaixo do sol” (Ec 1:9). O Evangelho de João inicia com um poema sobre a criação (Jo 1:1-14) para enfatizar a maravilha da encarnação: Jesus Cristo, que era Deus “no princípio”, criou o mundo e depois Se fez carne para salvá-lo. Seguindo o modelo desses autores bíblicos, estudaremos o texto bíblico da criação para aprender lições vitais sobre Deus, sobre nós mesmos como seres humanos e sobre a natureza e relevância da própria criação.
COMENTÁRIO
A beleza da criação
A primeira lição que aprendemos do texto bíblico sobre a criação é uma mensagem de beleza. Jogos de palavras, jogos de sons, paralelismos e estruturas bem equilibradas contribuem para produzir uma expressão poética poderosa. O ritmo de sete domina a passagem. A narrativa da criação não apenas cobre um período literal de sete dias, mas também vemos vários casos de repetição de sons, palavras ou mesmo frases específicas sete vezes. Esse ritmo de sete não é motivado apenas esteticamente. Essa característica estilística tem um significado profundo; ela testemunha a perfeição da criação divina.
A história da criação
É importante observar que a beleza literária do texto não sugere que o relato da criação deva ser entendido meramente como uma representação poética da imaginação. As formas verbais, que são as mesmas usadas em textos narrativos, o estilo de genealogia, que caracteriza a forma desse texto, e sua estrutura literária, que conecta os dois primeiros capítulos de Gênesis, todos são testamentos gramaticais e literários da intenção histórica do texto. O texto do primeiro relato da criação é explicitamente identificado, por seu Autor, como uma genealogia (Gn 2:4). Além disso, também mostra de fato todas as características literárias do formato de genealogia. A razão de o texto bíblico da criação ter sido escrito dessa forma é a intenção de conectar o leitor com as outras genealogias do livro do Gênesis e alertá-lo de que esse relato sobre o evento da criação pertence à história humana da mesma forma que a vida dos patriarcas.
Ademais, as correspondências linguísticas e temáticas entre o primeiro relato da criação (Gn 1:1–2:4) e o segundo que se segue (Gn 2:4-25) indicam um paralelismo entre os dois textos: a mesma estrutura em sete etapas no primeiro relato da criação (Gn 1:1–2:4) também se encontra no segundo (Gn 2:4-25). O relato da criação em Gênesis 1:1-2:4 está conectado à narrativa histórica em Gênesis 2:4-25. Isso sugere a intenção do autor de comunicar seu relato sobre a criação dos céus e da Terra como um evento pertencente à mesma narrativa histórica da formação do ser humano.
Ao conectar os dois relatos da criação, o autor também sugere que o mesmo fator “tempo”, que atuou na criação do ser humano, também atuou na criação dos céus e da Terra. O mundo e tudo que nele existe não levaram milhões de anos para atingir um estágio de maturidade que permitisse que tudo funcionasse corretamente. Por outro lado, o relato da criação de Gênesis não se apresenta como uma análise científica do evento da criação. Fosse esse o caso, o relato da criação teria sido escrito como uma fórmula muito complicada e infinitamente longa, que seria inacessível aos humanos. O autor bíblico escreveu, sob inspiração, o relato da criação como um evento histórico. Tudo o que ele disse sobre o evento da criação é verdade e não deveria conflitar com a ciência.
No entanto, sugeriu-se muitas vezes que a intenção do relato da criação não era histórica, mas essencialmente teológica ou filosófica. Além disso, argumentou-se que o texto de Gênesis 1 pretendia apenas edificar espiritualmente, não informar historicamente. Na verdade, esse método de leitura das Escrituras deriva de uma pressuposição crítica fundamentada no estudo da literatura grega clássica. De fato, nessa tradição, a mensagem espiritual tem primazia, e o evento histórico é secundário e irrelevante para o pensamento filosófico. Ao ser aplicado às Escrituras, esse método de leitura tem levado muitos estudiosos da Bíblia a rejeitar a intenção histórica do texto bíblico. Assim, no caso da ressurreição de Jesus, por exemplo, sua historicidade foi ignorada, e até questionada, enquanto os estudiosos se concentravam somente na mensagem espiritual de Sua vida. Mas a verdadeira visão bíblica opera inversamente a isso. A mensagem teológica procede do evento histórico. Visto que a ressurreição de Jesus é um evento histórico, podemos crer em Deus e pensar nossa teologia. Como o relato da criação em Gênesis é histórico, ele contém importantes lições espirituais e teológicas sobre Deus e os seres humanos.
A primeira frase da criação No princípio. A expressão hebraica bere´shit, “no princípio”, é enfatizada. Ela está no início da frase de abertura em Gênesis. Além disso, recebeu um acento enfático, o qual a destaca e a separa do restante da frase. De acordo com essa acentuação, a frase deve ser pontuada e lida assim: “No princípio; Deus criou os céus e a Terra.” A frase bere’shit é, na verdade, uma expressão técnica especificamente associada ao relato da criação. É de fato significativo que essa expressão seja muito raramente usada na Bíblia hebraica. Fora de Gênesis 1:1, bere’shit ocorre apenas quatro vezes, e apenas em Jeremias. Nesse livro, bere’shit pertence a uma fórmula estilística regular, aludindo às palavras introdutórias do relato da criação (Jr 26:1; 27:1; 28:1; 49:34, 35), embora as mensagens em si não tenham referência direta a esse relato.
Deus. A ênfase nesse “princípio” é reforçada pela ênfase no nome hebraico ‘Elohim (“Deus”) para designar Deus no relato da criação (Gn 1:1–2:4). Esse nome é derivado da raiz ‘alah, que transmite a ideia de força e preeminência. A forma plural confirma essa ênfase, uma vez que é uma expressão literária de intensidade e majestade, em vez de uma indicação de um plural numérico “deuses”. Tal forma plural implicaria em uma crença politeísta não israelita em vários deuses. ‘Elohim se refere ao grande Deus, que transcende o Universo. O ritmo de Gênesis 1:1 ecoa a mensagem da preeminência de ‘Elohim. Essa palavra aparece no meio do verso. Além disso, no texto hebraico, o acento (. disjuntivo [^]) que separa o verso em duas partes iguais é anexado à palavra ‘Elohim, “Deus”, que, no canto tradicional na sinagoga, marca a pausa e o clímax do verso. “Deus” é a palavra mais importante do verso, não apenas porque Ele é o sujeito da frase, mas também por causa do ritmo dela.
Criou. A palavra bara’, “criar”, ocorre sete vezes no relato da criação (Gn 1:1, 21, 27 [três vezes nesse verso]; 2:3, 4), indicando assim seu pertencimento inerente a esse evento particular. Além disso, na Bíblia hebraica, esse verbo é sempre e exclusivamente usado em conexão com Deus como seu sujeito.
Os céus e a Terra. A primeira frase da Bíblia, “Deus criou os céus e a Terra”, estabelece desde o início que Deus e a criação Dele são duas coisas distintas que não derivam uma da outra. A frase “os céus e a Terra” é um merisma (duas partes contrastantes que se referem ao todo) em que a combinação dos dois elementos contrastantes da frase se refere à totalidade do Universo, implicando que tudo foi criado por Deus. O uso da mesma frase no fim do relato da criação, referindo-se à semana da criação (Gn 2:1, 4), sugere que a formação dos céus e da Terra se refere especificamente ao mundo humano que foi gerado durante aquela semana. Ao mesmo tempo, essa frase não exclui a possibilidade de outras criações fora da semana da criação.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
No princípio, Deus. O evento da criação é o fundamento principal para a fé humana em Deus. Acreditar na criação, acreditar que devo minha existência e a realidade do mundo a Alguém que não vejo e que era antes de eu ser é o primeiro ato de fé. É digno de nota que a única definição bíblica de fé está relacionada à criação, de acordo com o que Paulo, o autor da Epístola aos Hebreus, descreveu: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem” (Hb 11:1). A criação é um evento na história que ocorreu quando os seres humanos ainda não estavam presentes para vê-lo e atestá-lo. Trata-se, portanto, de um evento por excelência que requer fé e, por implicação, é uma revelação de cima. Também é significativo que Paulo tenha começado sua lista de atos de fé com a criação: “Pela fé, entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não são visíveis” (Hb 11:3). O pensamento teológico, como a fé, deve primeiro começar com o reconhecimento da criação.
Perguntas para discussão e reflexão:
1. Como o fato de que a fé começa com a crença na criação afeta minha vida e minhas escolhas?
2. Que lição aprendemos com o fato de que não estivemos presentes para testemunhar a criação realizada pelas mãos divinas? O que aprendemos com a observância do descanso no sábado para celebrar o trabalho de Deus por nós?
